HÉLIO CUNHA E CARLOS SARAMAGO

HELIO CUNHA E CARLOS SARAMAGO




"Não sendo crítico de arte nem sequer escritor ou ensaísta, vou no entanto escrever algumas linhas para responder à solicitação que me foi dirigida para emitir uma opinião acerca da obra deste artista e é com prazer que o faço.
Carlos Saramago é genuíno e evita sempre colar-se a antigos mestres surrealistas tais como Dali, Magritte ou Max Ernst.

Este aspecto, só por si já é digno de nota e admiração pois decorre num universo artístico onde muitos outros tentam copiar o estilo desses pintores chegando ao despudor de utilizarem até muitos dos seus símbolos.
O universo deste artista é o universo da sinceridade.
A pintura de Carlos Saramago é a pessoa Carlos Saramago.
Através das suas obras somos transportados para uma espécie de portal onde as criaturas que habitam os mais recônditos recantos do subconsciente são reveladas com grande nitidez e eficácia em sequências de ininterrupta metamorfose, uma avalanche inesgotável de antológicas simbologias.
Por outro lado sua pintura é completamente automática o que encaixa nos preceitos de André Breton, acerca da necessidade essencial de automatismo para que a obra possa ser declarada surrealista e essa genuinidade que atrás referi, na construção de cada obra, faz com que ela assuma o aspecto de um cadravre esquis, paradoxalmente executado por uma só pessoa, pois as imagens nascem umas das outras numa torrente incessante, sem que haja nessa profusão um controle da mente consciente.
Nestas construções espontâneas alguns tiques de estilo fazem-me por vezes lembrar Cruzeiro Seixas embora Carlos Saramago tenha uma simbologia própria e facilmente reconhecível como sua.

Os seus desenhos mais sombrios, trazem-me à memória alguns dos Caprichos de Goya, não tanto pela semelhança mas mais pelo impacto e pela quase ausência de cor, pois estamos em presença de um estilo próprio, cheio de convicção, e da criação de símbolos muitos pessoais e fortes que dificilmente se deixarão contaminar por influências ou opiniões alheias
Aliás, nota-se que este artista não está sequer interessado em “inventar coisas originais” pois nem sequer necessita de o fazer dado a sua própria originalidade ser fluente e atávica e, assim sendo, basta limitar-se a ser ele próprio pois além de ser original na sua singularidade, também me parece pessoa de talento.
Carlos Saramago é jovem e terá ainda muito mais para nos dar, no entanto acho que deve ser já neste momento, digno da nossa atenção.
Estamos perante um artista que toma muito a sério o que faz e que merece igualmente ser tomado muito a sério, um artista que merece admiração e respeito, por parte de todo o amante de arte, galeria ou instituição".

(artista Plástico)
fevereiro / 2017